“A Igreja venerou sempre as Divinas Escrituras (Bíblia) como venera o próprio Corpo do Senhor (Eucaristia), não deixando jamais, sobretudo na Sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da Palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo”
CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI VERBUM SOBRE A REVELAÇÃO DIVINA, 21
Domingo, 18 de julho de 2010 - 16º Domingo do Tempo Comum
Primeira leitura: Gênesis 18, 1-10a
Meu Senhor, não prossigas viagem, sem parar junto a mim, teu servo.
Salmo responsorial: 14, 2-3ab. 3cd-4ab.5
Senhor, quem morará em vossa casa?
Segunda leitura: Colossenses 1, 24-28
O mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos.
Evangelho: Lucas 10, 38-42
Marta recebeu-o em sua casa. Maria escolheu a melhor parte.
Na primeira leitura contemplamos o velho Abraão, que neste relato não aparece como um pobre, mas possuidor de servos, animais bem cevados, etc, acolhendo 3 andantes. Seria uma indicação das 3 Pessoas Divinas: Pai, Filho e o Espírito Santo? O que podemos sublinhar é que Deus, nas pessoas peregrinas e acolhidas por Abraão, é um Deus familiar e que também aceita uma ACOLHIDA nas nossas casas e nas nossas vidas. A Bíblia está cheia de situações de ACOLHIDAS e esta continua sendo a grande fome da humanidade: Saber poder ser acolhida no amor, na paz, na mesa farta, na reunião dos amigos, na família unida e harmoniosa, etc, etc;
Na segunda leitura Paulo completa no próprio corpo a paixão de Jesus. A Igreja precisa da solidariedade dos seus membros e na perspectiva da fé o sofrimento, mesmo as perseguições, tem um sentido e não é esvaziado. Cabe refletir e rezar sobre o que se sofre. Paulo reflete sobre o mistério outrora escondido e agora revelado plenamente: Jesus Cristo, Verbo do Pai e salvador nosso. Paulo ainda recomenda a necessidade em ter em pauta a busca da perfeição e união com Cristo;
No evangelho lucano está em destaque duas mulheres, que são irmãs e que vivem juntas na mesma casa. Elas acolhem Jesus, que é amigo das mesmas. Aí está novamente o tema da ACOLHIDA na escritura sagrada. É próprio de Lucas reservar significativo espaço para as mulheres. Ele aproveita de uma situação bem feminina e doméstica para colocar o círculo dos discípulos de novo focado em Cristo.
Conhecemos bem este texto e nada de novo deve-se buscar a não ser aplicar em nossas vidas o sentido que cada mulher nos fornece:
MARIA, AQUELA QUE SE ABASTECE DE DEUS
- Ela deixa os afazeres e se aquieta diante do Senhor;
- Ela não precisa tanto de TER e FAZER mas de SER e por isso recebe com total docilidade o Senhor;
- Ela sabe que está “vazia” por dentro e por isso se faz recipiente para o Divino;
- Maria abastece-se de Deus, mesmo em meio há tantas coisas a serem feitas;
- Maria escolhe decididamente “a melhor parte” e sabe que é a melhor parte;
MARTA, ATIVISTA E DESFOCADA
- Essa mulher não pode parar, não sabe parar e não quer parar;
- Representa o lado da humanidade que apenas quer fazer, ter e nem sempre SER;
- Ela corre, faz barulho, está estafada e até perturba o silêncio da outra que implica numa ação de Jesus em prol de Maria, ou seja, em prol do saber parar e silenciar;
- “Marta, Marta” como se Jesus dissesse:
Escuta-me você, por favor!
São tantas as situações em que tantos cristãos são como essa mulher que parece ligada no automático e não consegue parar mesmo para acolher uma visita.
Se não somos mais acolhedores do outro, da presença do humano em torno de nós, que parte escolhemos de fato para nossas vidas? Por isso Jesus diz que Maria “escolheu a melhor parte”, ou seja, o outro, a RELAÇÃO, a presença. Ser gente sem estar em sintonia com gente é empobrecer, adoecer e até morrer por dentro. Neste sentido nossa cultura gera em grande parte “cadáveres ambulantes” que são pessoas sem pessoas, fechadas numa triste solidão interior e que jamais abrem a porta do seu próprio coração aos demais.
A falta da presença do outro me leva a buscar nos ansiolíticos, nos calmantes, nas drogas, no consumismo, na correria, na mudez e indiferença o que só a PRESENÇA do humano me pode dar.
Oração
Meu Bom Senhor, ajuda-me que eu sinta tua presença cada dia, todos os dias, nas situações diversas. Tu queres que eu te olhe nos teus Divinos olhos, que eu esteja amigavelmente bem próximo de Ti, que eu seja capaz de me tornar também um recipiente acolhedor de tua amorosa presença. Permita-me aprender, mesmo vagarosamente a saborear a tua doce, leve e suave presença. Presença que me faz melhor e nutrido de sentido e do Amor Maior. Amém!