A seguir, disponibilizo uma pequena entrevista que fiz com o PE. ESTEVÃO RASCHIETTI,SX, missionário italiano há mais de duas décadas atuando na Igreja do Brasil em diversas frentes. Atualmente ele é o Diretor do Centro Cultural Missionário, Organismo da CNBB aqui em Brasília onde acontece o Curso de atualização Missiológica para Presbíteros do Brasil. Vale a pena atenta leitura e reflexão sobre questões de fundo que Pe. Estevão apresenta:
QUAL O OBJETIVO PASTORAL DO CURSO DE MISSIOLOGIA ATUAL PARA OS PRESBÍTEROS?
Esse curso tem como finalidade redescobrir o ministério sacerdotal à luz de uma reflexão sobre a Missão. A Missão diz respeito a mais profunda identidade do presbítero, da mesma forma que diz respeito à essência da própria Igreja. Com efeito, o Concílio Vaticano II afirma que “a Igreja peregrina é por sua natureza missionária” (Ad Gentes 2). Não é por acaso que a própria prática missionária representa uma dimensão privilegiada de exercício do ministério do presbítero.
A Missão diz respeito a mais profunda identidade do presbítero,
da mesma forma que diz respeito à essência da própria Igreja
Portanto, acreditamos que é de fundamental importância refletir e pensar na missão, aprimorar o estudo da teologia e da espiritualidade da missão, mediante a abordagem de questões fundamentais, fortalecer a consciência missionária dos presbíteros e orientá-los a uma prática evangelizadora sempre mais próxima, inculturada, com horizonte universal.
Tratar de missão hoje em dia, não é só tratar de uma prática pastoral, mas a partir de uma prática evangelizadora nas frentes mais desafiadoras para os cristãos, renovar profundamente toda mentalidade eclesial. João Paulo II na encíclica missionária Redemptóris Missio fala exatamente que é preciso uma “conversão radical de mentalidade” (RMi 49): isso exige tempo, exige formação discipular, exige estudo, fundamentação e reflexão, exige ousadia.
COMO O SR. VÊ NA IGREJA DO BRASIL ATUALMENTE O PROCESSO DE REFLEXÃO E DE ANIMAÇÃO DA MISSÃO APÓS APARECIDA?
Tem se caminhado muito. Aparecida foi um incentivo excepcional. A Igreja no Brasil passou a promover continuamente muitas ações de caráter missionário. Mas ainda não temos uma sensibilidade missionária satisfatória. As comunidades são ainda muito fechadas em si mesmas.
Temos igrejas pouco solidárias entre si, em termos de partilhas de bens e de recursos humanos. É só comparar o Sul com o Norte do próprio Brasil.
Para que algo aconteça é preciso continuar a promover eventos de animação e de formação missionária nas dioceses, tanto dos padres como de todo o Povo de Deus, sobretudo para que a ação missionária de nossas igrejas não se limite apenas ao próprio território, mas se estenda ao mundo inteiro. Essa dimensão universal é fundamental para toda missão, mas paradoxalmente, é o que mais falta nos discursos e nas práticas missionárias aqui no Brasil. Como conseqüência imediata, temos igrejas pouco solidárias entre si, em termos de partilhas de bens e de recursos humanos. É só comparar o Sul com o Norte do próprio Brasil.
COMO O SR. PERCEBE NOS ATUAIS PARTICIPANTES (PADRES) O QUE PARA ELES SÃO DESAFIOS E ESPERANÇAS NO QUE TANGE A MISSÃO HOJE?
Os participantes deste curso demonstraram muita abertura, disposição e interesse pelo assunto. Isso revela uma sede e uma atitude muito positiva, como também é sintoma de uma carência. A missão é pouco trabalhada na formação inicial e permanente, porque ainda não se constitui como critério para a pastoral. Com muita dificuldades encontramos pistas de atuação concreta que dependem exclusivamente de mentes e corações convertidos a uma pastoral missionária e de sua criatividade. Na pastoral missionária não há receitas: ao contrário, nasce de visões e de espiritualidades profundas que conjugam continuamente a Palavra de Deus com a realidade do mundo, uma maneira específica de entender a Igreja com as necessidades reais das pessoas, uma inquietação evangélica com os gritos da humanidades e uma ação ousada que seja sinal de um mundo novo. Ainda vivemos com a impressão de estarmos num regime de cristandade.
Na pastoral missionária não há receitas: ao contrário, nasce de visões e de espiritualidades profundas que conjugam continuamente a Palavra de Deus com a realidade do mundo
Quando descobrimos que a Igreja não tem o mesmo impacto na vida das pessoas como tinha antigamente, então recorremos à missão, ou melhor, a alguns eventos missionários, para restaurar a sensação da hegemonia perdida, e trazer de volta o povo para a igreja. No entanto, o problema está na própria mentalidade eclesial, excessivamente fechada em si mesma, pouco disponível a dialogar com um mundo plural.
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