22º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 29.08.2010
1ª Leitura: Eclesiástico 3,19-21.30-31;
2ª Leitura: Hebreus 12,18-19.22-24;
EVANGELHO: Lucas 14,1.7-14;
A primeira leitura nos apresenta um velho e sábio pai orientando o filho para que na sua vida seja abençoado e feliz. Na primeira orientação aparece o “ser amado” em primeiro plano. Qual pai (ou mãe) que não tem como primeira preocupação o amor na vida dos seus filhos? Vida sem amor é como dor sem remédio, que castiga e traz sofrimentos premamentes. Na mais pura e sadia tradição judaica está a relação entre pais e filhos como algo extremamente sagrado. O pai ensina ao filho que não deixe de crescer, ser grande, realizado, mas que tenha como meta a humildade. São como as duas linhas do trem: conquista e humildade; Com este equilíbrio o “trem da existência humana” fará abençoada viagem e chegará bem à estação.
Tais conselhos parecem ser de outro mundo nos tempos de hoje, onde o que importa nessa tal de “sociedade líquida” é a competidão, o ser “estrela”, o estar à frente dos outros, mesmo que tenha que pisar sobre os outros. Quanta gente que gasta grande parte da existência apenas focado em possuir mais e mais títulos, subir degraus, aparecer, aparecer e aparecer. Essa epidemia também está nos espaços eclesiais e contagia boa parte da nova geração na Igreja. Humildade parece uma palavra meio deontia, fora de cogitação, cafona e arcaica.
Mas aí é que está o engano. Na palavra HUMILDADE aparece o HUMUS, o “mineral” que dá uma nova força, que faz a planta receber novo viço, ficar forte e linda. Os verdadeiros humildes são pessoas que passam uma força, uma leveza, que transpiram interioridade, que nos mostram a linguagem do amor sem discursos e malabarismos intelectuais. Basta lembrarmos aqui de Francisco de Assis, Gandhi, Teresa de Calcutá, entre tantos e tantas. Há muita gente que é humilde. Não confundamos humildade com subserviência e passividade. É exatamente o oposto. A humildade verdadeira dá um sentido de liberdade profunda, calcada na gratuidade e na capacidade de dizer não sem violência e dizer sim com total docilidade.
O pai diz ao filho que o orgulhoso está perdido (Versículo 30). Que o orgulho é um mal sem remédio. Incrível! Mas conhecemos em nossas múltiplas relações pessoas arrogantes, cheias de EGO, achando que o sol nasce apenas para elas e ficam “gordas” de si mesmas. Tais tipos na verdade são infelizes, incapazes de abraçar, de amar, e por vezes apresentam-se tristes, agitados, pertubados e desfocados do essencial. O orgulho é uma tragédia na cultura atual. O incrível é que o velho texto bíblico confirma a situação atual: ELE (o orgulhoso) NÃO COMPREENDE. O humilde das escrituras não é um estúpido, um idiota, mas gente de sabedoria. Não a sabedoria do mero intelecto frio e calculista, mas de um coração calejado na arte de saber estar próximo dos outros, de amar, de deixar-se ser alcançado sempre e de ser capaz de múltiplas relações, porque liberto e amoroso.
Na segunda leitura, o autor aos Hebreus faz uma longa relfexão sobre o transcendente, às realidades espirituais e neste pequeno texto que é parte de uma parte maior nos apresenta o foco central de nosso destino: JESUS CRISTO. Em Jesus Cristo seremos participantes da Jerusalém Celeste, da comunhão dos santos. Nesta comunhão entram nossos queridos que já partiram desta humana peregrinação. A linguagem é carregada de imagens fortes e atrativas:
monte Sião, cidade do Deus vivo, Jerusalém celeste, festa de milhões de anjos, assembléia dos primeiros...
O fariseu tinha a Lei diante dos olhos mas distante do coração
O santo evangelho - Lucas que sempre apresenta Jesus “viajando e comendo pelas casas” nos mostra neste trexto Ele num contexto de refeição; Mas aqui não é qualquer refeiçãoe sim um evento de comensais “escolhidos” a dedo. Afinal Jesus vai comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Imagina o quanto este homem era avanmçado no farisaísmo. Afinal ele era o “chefe da tribo” na arte de falar e não fazer, de mandar que outros cumpram mas ele mesmo não. Para ver como Jesus tinha dificuldade com esta categoria de gente, os fariseus, leia pausadamente todo o capítulo 23 de Mateus. Lucas na sua fina percepção escreve: ... e eles o observavam. Jesus não foi convidado porque os fariseus queria a ele propiciar um belo momento, uma boa refeição, etc. Eles queriam apenas tentar pegar Jesus em alguma contradição. Na verdade a refeição era uma espécie de cilada. É como alguém que ao oferecer uma comida ou bebida a oferece envenenada, querendo matar o outro. Jesus aproveita observa atentamente tudo (V 7) e tira daí um ensinamento para seus discípulos. Por isso conta a parábola adiantando como não deve ser as relações entre os discípulos e desses com o povo, especialmente os pobres, os pequenos, os últimos.
Jesus tem uma mensagem clara aos seus seguidores na primeira parte da parábola e na segunda parte aos seus opositores, que também precisam refletir mais a fundo ou eticamente sobre as relações sociais. Ele diz ao chefe dos fariseus que é preciso lembrar que em torno de si existem os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Jesus “traz” à casa do fariseu e essas 4 categorias e que era muito numerosa no seu tempo. Tais categorias mostram que uma grande parte da sociedade está na carência dos bens – pobres -, na imobilidade da dinâmica da vida e da dignidade e na nessecidade de solidariedade – aleijados e coxos -, e na cegueira para uma existência livre, feliz e justa – cegos -. Jesus apresenta o submundo dos pobres e sofredores e diz que tal banquete é uma afronta as tantas carências desses últimos que ninguém lembar mais deles.
Aqui Jesus inverte o conceito de felicidade. A felicidade vem a partir da compaixão, da solidariedade, da partilha, do ir ao encontro do outro machucado, marginalizado e esquecido. Naturalmente que isso não soa hoje muito bem aos ouvidos dos públicos cristãos com ouvidos feitos para escutar apenas “mensagens de otimismo” e de “auto ajuda”.
ENTÃO TU SERÁS FELIZ PORQUE ELES NÃO PODEM TE RETRIBUIR. É fácil trabalhar e servor a quem nos dá sempre alguma forma de retorno. O contrário... Poderíamos ainda gastar tinta neste papel virtual elencando os banquetes feitos hoje longe do mundo dos sofredores e famintos. Mas não podemos findar sem deixar este questionamento. Desgraçadamente têm muitos cristãos que usam os pobres hoje para seu próprio bem estar. Como explicar que se desenvolve uma ação social na periferia, não por amor e solidariedade aos pobres, mas apenas para garantir a continuidade da filantropia e assim continuar educando ricos, que vão continuar banqueteando de costas viradas aos próprios pobres? Que o Senhor nos ajude a sermos bem ao contrário do chefe dos fariseus. O contrário é o mais nobre no conceito de missão e solidariedade.
PODERÍAMOS REZAR TALVEZ ASSIM:
Deus Pai,
que não falte em mim a humildade, como a viveste teu filho Jesus;
Deus, que eu seja um pai (uma mãe)
que ensine valores para o coração e não apenas valores materiais;
Deus, que eu lembre sempre, que apesar de minha mesa farta,
existem tantos que não podem sequer se alimentar,
quanto mais baquetear e se divertir com a comida e a bebida;
Deus, ajuda-me a ser capaz de partilha maior e melhor;
Deus, dá-me a sensibilidade de teu filho Jesus e meu salvador. Amém!