“A Igreja venerou sempre as Divinas Escrituras (Bíblia) como venera o próprio Corpo do Senhor (Eucaristia), não deixando jamais, sobretudo na Sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da Palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo”
CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI VERBUM SOBRE A REVELAÇÃO DIVINA, 21
SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO – 04.07.2010
1ª Leitura: Atos 12, 1-11;
Salmo 33(34)
2ª Leitura: 2ª Timóteo 4,6-8.17-18;
Evangelho: Mateus 16, 13-19;
Na primeira leitura é clara a intervenção de Deus na ação apostólica. A Igreja é guiada pelo Espírito Santo – Luz que ilumina a cela de Pedro – mesmo sendo feita por pessoas frágeis e limitadas. Neste relato Lucas, o autor de Atos, quer colocar em evidência que os apóstolos por si mesmos não podem conduzir a Igreja.
Ter esta consciência, de que somos enquanto membros do Corpo de Cristo, “inúteis servos” é fundamental, para permitirmos a ação de Deus nas nossas ações humanas. Lucas também mostra que os pastores da Igreja precisam da força da oração que vem do povo santo. O inicio da Igreja é uma continuidade da Páscoa de Cristo, que antes da vida nova passa-se pela cruz e por todo o sofrimento que faz parte do processo de morte e ressurreição.
Essa realçao difícil e historicamente sempre problemática da vida da Igreja frente às forças dominantes de cada época não é nada simples e requer pastores capacitados e tomados de paixão por Deus. Aqui vemos duas forças antagônicas bem explicitas através da força política e militar:
- Herodes é assassino dos seguidores de Jesus;
- Ele usa o poder para impedir que uma força de vida se desenvolva;
- Pensa que predendo a Pedro acabará com a Igreja;
- Tinha muita mão de obra a serviço da morte: 16 soldados para um simples Pedro;
- Sua força e arrogância aparecem na fortaleza onde Pedro é feito prisioneiro;
...E através da força espiritual e fraternal:
- A comunidade está unida a Pedro pela oração;
- A oração “toca no céu” e um Anjo de Deus vem libertar a Pedro;
- Pedro se deixa conduzir pelo anjo sem fazer perguntas ou colocar reticências: tão somente confia e cumpre o que é pedido;
- Pedro faz a experiência em se deixar conduzir pela força espiritual;
- Ela se convence por fim do amor ilimitado e cuidadoso do Bom Deus (V. 11);
É preciso que aquele que dirigi a Igreja tenha confiança total em Deus;
Na segunda leitura vemos parte da carta do velho Paulo ao jovem Timóteo. É um texto que sai do mais profundo do coração do grande Paulo. São conclusões fortes, densas, ricas de consciência e que nos mostram um Paulo feliz e totalmente entregue a Deus. Infelizmente em muitas situações e épocas a Igreja nem sempre gerou homens assim: chegar à velhice cheios de Deus e com um balanço o mais sereno e confiante possível.
Certa vez escutei que muitos bispos quando eméritos são jogados numa certa solidão, e quanto mais velhos mais tristes e com sentimentos de certo vazio existencial e espiritual. Fiquei assustado, pois penso que todo o cristão deve por primeiro fixar os olhos do coração em Cristo e nos que foram seguidores exemplares e fiéis. Os apóstolos nos dão essa dimensão: fidelidade, alegria, entrega desmedida ao evangelho e entrega serena e confiante da vida a Deus;
Pessoalmente rezo cada dia para que eu possa experimentar na minha pobre vida o que Paulo partilha de sua experiência missionária no V. 17:
- Sentir a presença próxima do Senhor sempre;
- Receber de Deus forças;
- Saber que a Palavra, pela Graça de Deus, fosse anunciada sem “cortes e negociatas”, mas com fidelidade total, mesmo custando enormes sacrifícios;
- Saber que o esforço foi válido, já que a mensagem tocou tantos corações e mudou tantas vidas: Nações;
- E reconhecer que Deus na sua bondade cuidou para que não fosse devorado pelo “leão”, o inimigo do evangelho e que busca destruir as forças reinocêntricas;
No santo evangelho – João 21, 15-19 - vemos esta relação de amor declarada entre Pedro e Jesus. Jesus quer a certeza do amor de Pedro e Pedro, apesar de seus enormes limites, confirma que ama o Senhor e O amará sempre. A Igreja não se organiza a partir de planos, projetos, estratégias, dinheiro, poder temporal, competição, carreirismos, títulos, mas no e pelo AMOR. Sua língua é o AMOR. Quando na Igreja o amor não é mais a base da Igreja, quando o amor não também o “sangue” das veias eclesiásticas e eclesiais, quem perde é a própria Igreja.
Jesus precisa escutar que Pedro o ama. Pedro precisa ser provocado a pensar melhor e mais a fundo de que ele não vai administrar uma sociedade, mas vai animar e em Nome do Senhor, cuidar de uma Comunidade formada por gente que opta por Cristo e pelo Reino de Deus;
Em Mateus 16, 13-19, Jesus faz uma pergunta que é de certa forma avaliativa e provocartiva: Que dizem os homens ser eu? Vários dão algumas respostas. Mas falta uma resposta que deve remeter para uma unidade. Na resposta de Pedro aparece esta unidade que quer Jesus na vida e na missão dos seus seguidores e seguidoras: TU ÉS O CRISTO, O FILHO DO DEUS VIVO! Neste grande credo está resumido tudo e então Pedro pode receber a missão de conduzir a comunidade cristã. O começo da Igreja dá-se afirmando a identidade de Jesus e essa deve ser a missão primeira de Pedro e de todos os bispos que tornam-se Papas na história do cristianismo;
Jesus dá a garantia (V. 18) de que o poder do inferno jamais destruirá a Igreja, enquanto, família humana seguidora de Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Tal garantia encoraja a Pedro e a nós em nosso tempo. Sabe-se que a Igreja tem sofrido muitas e duras provas, por causa dos pecados de muitos dos seus filhos e filhas. Mas a Palavra de Cristo encoraja a Igreja a manter a fidelidade a Ele e ao Reino.
Oração:
Permita-me Senhor, ser um bom filho da Igreja.
Que eu Ti veje nela cada dia,
todos os dias, e que jamais me canse em ser servidor e instrumento teu dentro da Igreja.
Mas ajuda-me acima de tudo Senhor,
compreender que tu não fundastes a Igreja para sim mesma,
mas para que ela ajude no acontecimento maior que é a vinda do teu Reino. Amém!
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