“A Igreja venerou sempre as Divinas Escrituras (Bíblia) como venera o próprio Corpo do Senhor (Eucaristia), não deixando jamais, sobretudo na Sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da Palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo”
CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI VERBUM SOBRE A REVELAÇÃO DIVINA, 21
13 Domingo do Tempo Comum – 27.06.2010
1ª Leitura - 1Rs 19,16b.19-21
Salmo - Sl 15,1-2a.5.7-8.9-10.11(R. 5a)
2ª Leitura - Gl 5,1.13-18
Evangelho - Lc 9,51-62
Na primeira leitura contemplamos o grande profeta Elias, o denominado profeta não-literário realizando um belo trabalho vocacional. Ele, após sua crise, depois de sair da caverna, após ter vencido a “noite escura”, segue seu caminho e obedecendo a Palavra de Deus decide “pescar” um trabalhador do campo, ou melhor, da terra, para o serviço do próprio Deus. Elias tem uma pedagogia certeira e por isso ele lança sobre o trabalhador o seu manto:
[Elias, ao passar perto de Eliseu,
lançou sobre ele o seu manto]
lançou sobre ele o seu manto]
Eliseu, como que tomado por uma rede que o envolvia e o “domava”, pede ao profeta que permita ao menos ir despedir (beijar) os seus pais para depois por-se no seu seguimento. Autorizado, ele despede de sua família e para não cair na tentação do retrocesso, mata os bois, “instrumentos” do seu trabalho e com as brasas geradas pelo arado e cangas, faz um churrasco e uma festa de despedida, siginificando que a partir dali, não estará mais atrás de bois, segurando arado, mas a frente de um povo, como guia e motivador de vida reinocêntrica. São os mistérios do chamado. Tal chamado requer a destruição do que antes dava segurança. Parece meio “louco” mas é assim mesmo.
Caso eu escute o chamado de Deus, mas não sendo capaz em desfazer (destruir) meus “castelos”, ou matar “meus bois”, não serei capaz do Seguimento. É isso o que Jesus dirá séculos mais tarde aos seus seguidores.
Pessoalmente acho lindo que Elias coloca sobre o empoeirado e pés sujos de terra, Eliseu, seu manto de profeta. Compreendo que o trabalho vocacional precisa ser feito nesse corpo a corpo. O novato precisa sentir o cheiro do profeta e até mesmo o seu calor, para logo no inicio criar uma identificação forte. Tenho reservas com campanhas vocacionais feitas apenas de papéis enviados via correio ou belas imagens virtuais disponíveis na internete. Onde não tem o corpo a corpo não se encontra o coração. E sem coração é difícil haver paixão.
Na segunda leitura apenas uma frase paulina resume o principal:
[... foi para a liberdade que Cristo nos libertou]
A cruz aqui é apresentada como instrumento de não-morte, mas de libertação. Como é difícil num mundo de superficialidades, facilidades e distrações compreender o que Paulo diz aos Gálatas. Ser cristão é não ser dominado por nada. São tantas as formas modernas de escravidão: consumismo, hedonismo, niilismo, alcoolismo, exotismo, sexismos, ansiolíticos, etc.
Veja quantas vezes Paulo fala da carne como opsição ao Espírito. Mas na nossa vida prática hoje sabemos que nossa carne (ego, super-ego, neu-ego, hiper-ego, call-ego,...) opõem-se muito e muito mais ao Espírito do que a carne que fala Paulo. Paulo recomenda de forma não autoritária, mas clara, que um cristão tem de estar voltado para o Espírito (Vida) e relativizar/abandonar a carne (morte), que sempre é traiçoeira.
Hoje se sabe que o excesso de materialismo – carne em abundância – é a causa das tantas desvirtuações nas relações humanas e das relações dos humanos com a natureza. Aliás, os excessos, ou ausência de cruz-renúncia, são os males piores que nos cercam diariamente. Observa, que ao seu redor sempre vai haver gente que está em algum grau em algum excesso.
Adquirir o equilibriuo através de uma vida frugal, simples, humilde e pacífica é o desafio para os cristãos de hoje, o que certamente não foi fácil para a comunidade da Galícia.
No santo evangelho contemplamos Jesus dando respostas certeiras e objetivas para pessoas confusas e indecisas, mas que prentediam segui-Lo.
[Então ele tomou a FIRME DECISÃO de partir para Jerusalém]
Lucas nos apresenta algo próprio do caráter de Jesus: Uma Pessoa decidida. Tomar decisões é próprio de gente que tem “bagagem interior”. Aqui Jesus tome firme decisão. O que seria uma fraca decisão? Essa conhecemos bem a partir de nossas tantas decisões transformadas logo depois em in-decisões. Jesus não tinha tempo a esperar e muito menos queria fazer de conta que estava fazendo. ELE FAZIA FAZENDO, COM DECISÃO TOMADA E INEGOCIÁVEL.
[Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram:
'Senhor, queres que mandemos
descer fogo do céu
para destruí-los?'
Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os]
'Senhor, queres que mandemos
descer fogo do céu
para destruí-los?'
Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os]
Não vou entrar aqui na área da tolerância religiosa e do tão urgente e devagar diálogo inter-religioso. Tem gente com a devida competência e autoridade para fazê-lo. Mas me choca que ainda em pleno século XXI e quase 50 décadas após o Concílio Vaticano II, ainda tem gente cristã que torce o nariz com as expressões e o direito de outras religiões fazerem o bem em um mundo de tantos males. Há poucas semanas tive essa experiência, uma a mais entre tantas no meu ministério consagrado a Deus para os pobres e sofredores e por isso, permite que eu me encontre com os que não são de minha Igreja, mas que são também servidores dos pobres.
...E nesse contexto Lucas nos apresenta o perfil de 3 ‘vocacionados’:
1. “ALGUÉM NA ESTRADA DISSE A JESUS: 'EU TE SEGUIREI PARA ONDE QUER QUE FORES.' Jesus lhe respondeu: 'AS RAPOSAS TÊM TOCAS E OS PÁSSAROS TÊM NINHOS; MAS O FILHO DO HOMEM NÃO TEM ONDE REPOUSAR A CABEÇA.'
Esse alguém precisa ser bem orientado quanto ao desapego. O seguimento requer libertação interior e exterior. Quem não é capaz é melhor ficar onde está. Mas Jesus mostra seu próprio exemplo: ELE é mais pobre que as outras criaturas do reino animal, que inclusive tem onde dormir, se proteger, alimentar-se, etc.
Esse alguém precisa ser bem orientado quanto ao desapego. O seguimento requer libertação interior e exterior. Quem não é capaz é melhor ficar onde está. Mas Jesus mostra seu próprio exemplo: ELE é mais pobre que as outras criaturas do reino animal, que inclusive tem onde dormir, se proteger, alimentar-se, etc.
Aqui, discipulado é desapego total. Quantos atualmente são ordenados presbíteros (Padres) e a primeira e obssessiva preocupação é possuir uma chique residência, um carro moderno, um salário garantido, um celular que o “proteja” e um computador que permita fazer tudo o que alimenta o ego e a solidão interior. Tem sim certo discipulado, mas não o do seguimento e sim do enriquecimento e ostentamento. Ainda querem que a Igreja esteja cheia de gente e que católicos não se debandem para o pentecostalismo. Tal modelo de discipulado é um tiro no próprio pé.
2. A outro Jesus disse: 'SEGUE-ME.'
ESTE RESPONDEU: 'DEIXA-ME PRIMEIRO IR ENTERRAR MEU PAI.'
JESUS RESPONDEU: 'DEIXA QUE OS MORTOS ENTERREM OS SEUS MORTOS;
MAS TU VAIS ANUNCIAR O REINO DE DEUS. '
Esse outro é o tipo de gente que quer dar a vida para o Reino de Deus sem ser capaz de romper o cordão ubilical. Deus não quer gente amarrada, muito menos amarrada em um cordão ubilical, psicologicamente infantilizada, sem amadurecimento interior e sem consciência de que o Reino requer homens e mulheres livres e com capacidade elevada de renúncia e amor. Jesus não pede para que se deixe de amar os pais. Jesus pede para que os pais não estejam em primeiro plano e o Reino é que deve ser o referencial primeiro do seguidor.
Jesus continua chamando também os jovens de hoje. Mas hoje são os pais que primeiramente impendem os filhos a darem suas vidas a Deus. Prefere filhos que dêem suas vidas ao mercado e por isso enquanto crianças os pais determinam que os filhos serão médicos, bailarinas, gerentes, que farão um curso no exterior e que serão bem casados e bem sucedidos financeiramente. Ninguém oferece um filho ou filha para o serviço de Deus, mesmo que muitos desses pais vão cada domingo na missa. Dizem amar a Deus, mas não se importam se Deus ficar sem auxiliares e colaboradores diretos. Tal amor é amor?
Jesus continua chamando também os jovens de hoje. Mas hoje são os pais que primeiramente impendem os filhos a darem suas vidas a Deus. Prefere filhos que dêem suas vidas ao mercado e por isso enquanto crianças os pais determinam que os filhos serão médicos, bailarinas, gerentes, que farão um curso no exterior e que serão bem casados e bem sucedidos financeiramente. Ninguém oferece um filho ou filha para o serviço de Deus, mesmo que muitos desses pais vão cada domingo na missa. Dizem amar a Deus, mas não se importam se Deus ficar sem auxiliares e colaboradores diretos. Tal amor é amor?
3. UM OUTRO ainda lhe disse:
'EU TE SEGUIREI, SENHOR, MAS DEIXA-ME PRIMEIRO DESPEDIR-ME DOS MEUS FAMILIARES.' Jesus, porém, respondeu-lhe:
'QUEM PÕE A MÃO NO ARADO E OLHA PARA TRÁS, NÃO ESTÁ APTO PARA O REINO DE DEUS.'
Dicotomia. Esta é a doença do homem moderno e também de tantos cristãos. Ou como dizem no linguajar popular: querer servir a Deus e ao diabo ao mesmo tempo. O sujeito diz a Jesus que quer estar com ELE, mas que precisa ainda despedir-se de seus pais. Ele tem um coração não unificado, continua fragmentado e por isso Jesus é duro com ele. Jesus o chama em parte de incapaz e despreparado ou ainda de limitado.
Não serve a Jesus querer caminhar com Ele olhando para trás, com a mente e o coração presos em pessoas e coisas, e com isso impedindo em ter um novo e libertador foco. Jesus quer gente com FOCO – FOGO – ARDOR – AMOR IRRESTRITO e capacidade de olhar para a frente e saber que Jesus está ao lado, mesmo que as vezes se sinta só.
TOLERÂNCIA RELIGIOSA PARA O MELHOR DO REINO DE DEUS
Abaixo hospedo algumas fotos documentando uma fraterna visita
que este padredefraternidade fez ao Terreiro do Pai Antônio,
nas festas de São Jorge deste ano,
em Santa Cruz do Sul-RS
que este padredefraternidade fez ao Terreiro do Pai Antônio,
nas festas de São Jorge deste ano,
em Santa Cruz do Sul-RS
Eu tive a graça, quando na minha juventude, em Caxias do Sul-RS, acompanhar inúmeras vezes o saudoso Monsenhor Hilário Pandolfo nas constantes visitas que ele fazia, geralmente nas sexta-feiras a noite, nos vários espaços das religiões afro-descendentes. Ali aprendi que Deus não habita tão somente os nossos espaços.
No Terreiro de Umbanda do Pai Antônio, que eu conheço há muitos anos, ao contrário de tantos espaços cristãos católicos (Paróquias, Conventos, Colégios, etc), os pobres e sofredores sempre encontram um pouco de comida, uma palavra de ânimo e encorajamento, bem como um abraço e fraternura. Quando doentes, pessoas do Terreiro os visitam e criam laços de solidariedade com os mesmos.
Orando...
Ajuda-nos Senhor a sermos seguidores centrados, tolerantes, pacíficos, dialogáveis e cheios do vosso amor e famintos desse amor que edifica e eleva, que liberta e salva, que encoraja sempre. Amém!
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