“Só existem dois dias no ano

que nada pode ser feito:

Um se chama ontem

e o outro se chama amanhã.

Portanto, hoje é o dia certo para amar,

acreditar, fazer e principalmente viver”

Dalai Lama

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Parceira pela cultura da vida!

Benni, no centro com camisa vermelha. Segurando o chimarrão está o Cacique Jadir Jacinto

Compartilho aqui o diálogo entre o Benni e o Conselho Indígena Kaingang no dia 03.06.2010, dentro da Comunidade Indígena com o Cacique e os membros da Conselho Indígena. 

BENEDIKT SCHÄFGEN (Benni), 20 ANOS, jovem de Trier (Alemanha), que veio fazer um voluntariado com os mais pobres no Brasil, na Missão da FRATERNIDADE PALAVRA E MISSÃO, visitou a aldeia indígena kaingang, no municipio de Irai, estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil, nos dias 02, 03 e 04.06.2010. Num encontro com o Conselho Indígena da Aldeia houve o seguinte diálogo, que pelo seu conteúdo e significado no aspecto parceria para o desenvolvimento, reproduzimos aqui:

Benni perguntou:
O que houve aqui de desenvolvimento desde que a missão da Fraternidade aqui chegou?

Resposta do Conselho Indígena:
Com a missão social do INSTITUTO HUMANITAS FRATERNIDADE, braço de engajamento da Fraternidade com os pobres, nossa comunidade indígena teve muitas e importantes conquistas. Mas destacamos as mais importantes para nós indígenas que são a construção do CENTRO COMUNITÁRIO INFANTIL CRIANÇA VIVA dentro de nossa aldeia, a alimentação durante todos esses mais de 10 anos às nossas crianças, tirando elas da fome e da desnutrição, o apoio material e humano para muitas mães indígenas que são sozinhas, sem o companheiro na criação dos filhos, o apoio aos indios idosos e às familias.

Benni perguntou:
O que vocês mais destacam de importante?
Para nós, a presença do Pe. Cyzo e através dele a presença da Igreja Católica aqui, de forma bem ativa e engajada, ajudou a melhorar muito a auto-estima do nosso povo. Passamos a ter o sentimento de que não estamos sozinhos com nossos problemas e nossas dificuldades, de que tem solidariedade com nosso povo, que historicamente foi saqueado, enfraquecido e até mesmo diminuido pela cultura e opressão dos brancos. Com a melhora de nossa auto-estima, nós passamos a também enchergar melhor nossa própria vida e também nos abrimos para colaborar com outras comunidades indígenas mais pobres e até com maiores dificuldades que a nossa.

Benni perguntou:
O que significou a ajuda dos parceiros alemães através do Instituto Humanitas Fraternidade para os senhores?
Sem a ajuda significativa das pessoas da Alemanha que nos conheceu e se interessou por nós, muito do desenvolvimento aqui não seria possível. Agora podemos citar o que veio da Alemanha para melhorar nossa comunidade indigena nesses anos que são:

- Ajuda para a oficina de costura. Nossas mulheres indias cada vez mais costuram;

- Ajuda para manutenção da alimentação diária de nossas crianças. No momento são quase 80 crianças que são assistidades de 4 a 16 anos de idade;

- Ajuda para que pudessémos formar na universidade 2 jovens indígenas. Uma em pedagogia e que hoje atua na escola da nossa comunidade como professora e outro como Agrozootécnico. A partir desses dois jovens ficamos encorajados e com muito esforço buscamos caminhos e hoje são 10 jovens indígenas que estão na Universidade. Com o estudo superior eles poderão no futuro ajudar melhor o seu próprio povo indígena. Também concordamos que o maior desenvolvimento é investir em educação dos jovens.

- Construção de quase duas dezenas de casas e reformas de outras, tirando muitas famílias que habitavam em péssimas condições de moaradia, estando no relento;

- Ajuda para a construção do Pavilhão que vai nos ajudar para gerar renda para nossa comunidade.

- A construção do parquinho infantil que permite às nossas crianças um lugar seguro para brincarem e também para as crianças da própria escola da comunidade indígena são beneficiadas;

Benni perguntou:
Quais são as maiores dificuldades do momento?
Infelizmente nossos jovens não estão sendo devidamente preparados para sobreviverem nesta sociedade como ela está ficando hoje. Falta-nos emprego e os contra-valorres da cultura branca como a droga, a promiscuidade sexual, o consumismo, o alcool  e tantos outros males tentam atingir e atingem nossos jovens aque são muito vulneráveis. Precisamos achar um programa de formação em valores do jovem indio, que ele possa viver na sociedade com os brancos mas sem deixar os bons e milenares valores que tem o povo indígena.Alguma coisa já estamos fazendo mas que precisa ter continuidade.

Benni perguntou:
O vosso povo indígena confia no povo branco?
Nós não confiamos muito não. Pois historicamente nós fomos traídos pelos brancos que roubaram nossas terras de nossas florestas, nos tirou nossas riquezas, nos deixou pobres e desprezados socialmente. Nós somos sinceros: ainda não confiamos nos brancos. Isso não quer dizer que não gostamos de muitos brancos. Há muitos brancos bons e que de fato querem nosso desenvolvimento humano e social. Mas até hoje ainda aparece muitos brancos aqui que vem fazer pesquisa para universidades, para fundações, e que prometem isso e aquilo e quando tem seus interesses resolvidos somem e nunca mais dão notícias. Apenas nos usam e usam nosso povo como há 500 fazem desde que os brancos chegarm aqui.

Benni perguntou:
Qual é então o próximo passo para os senhores?
Nós estamos conversando com o Padre Cyzo para ver se o Instituto Humanitas Fraternidade possa abrir aqui um pequeno Projeto Crescer Sempre como tem em Santa Cruz do Sul para os adolescentes pobres das vilas de lá. Algumas oficinas onde nossos jovens aprendem uma coisa prática. Ou mesmo tentar trazer alguma empresa que monte seus produtos dentro da aldeia, numa terceirização. Queremos vem como achar caminhos e estamos atentos a isso no momento.

Ainda pedimos ao Pe. Cyzo como organizar aqui na nossa comunidade indígena um trabalho de orientação para as famílias. Muitas famílias precisam de mais orientação para viver melhor no relacionamento entre esposos, pais e filhos, vizinhos, no dia a dia. Falta-nos liderança para isso. Até mesmo como ajudar a compreender que se precisa fazer um planejamento familiar.

Benni perguntou:
O que ainda podem os senhores dizer?
Que a presença do Instituto Humanitas aqui é muito importante. Que nós agradecemos a vossa visita aqui e que leve nossa sincera gratidão ao seu povo na Alemanha. Saiba que cada ajuda que chega até nós também nos encoraja e nos dá a certeza de que gente de bem de tão longe está interessada na melhor vida do nosso povo que é tão pobre e tão sofrido. Nosso muito obrigado a todos lá na Alemanha através de sua pessoa e que tenha boa viagem de retorno ao seu país.

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